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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Especial: Educação!

Meu Comentário:
Hoje estava lendo no jornal Zero Hora (Além de comprá-lo, pode ser acessado via internet) e me deparei com o artigo da Deputada, professora e também Doutora em Psicologia Cognitiva pela Universidade de Paris Esther Grossi, a qual debate um assunto muito importante sobre a nossa educação brasileira. Em especial sobre o desenvolvimento da alfabetização em nossas escolas. Logo abaixo se encontra este artigo, o qual tive o prazer de redigi-lo para vocês.


Uma ousadia premiada

A idéia truncada de que nas escolas públicas a alfabetização pode e deve ocorrer durante três períodos letivos, isto é, até os oito anos, apóia-se no argumento de que alfabetizar aos seis anos pode roubar o sagrado direito à infância que as crianças têm. Este argumento não resiste a uma simples análise. Aprendizagem é uma vivência avessa à infância? Aprender é algo penoso e maçante? Pensemos. Existe período em nossa vida em que mais se aprende do que na infância? Na infância, aprende-se a engatinhar, a andar, a correr, a saltar, a andar de bicicleta, a chutar, a dançar, a nadar... Também se faz a fabulosa aprendizagem de se comunicar estruturando o pensamento em nossa língua materna. Aprende-se a conviver com pai e mãe, com irmãos, com avós, com primos, com tios, com vizinhos, com amigos e com estranhos.  Por outro lado, essas aprendizagens não apresentam nenhum vestígio de amargura, mesmo que demandem muito esforço. Por conseguinte, em nada procede a idéia de que ensinar a ler e a escrever poderia roubar a infância. Reforça cristalinamente esta constatação a evidência ampla de que nenhuma criança de classes altas ou médias, por voltas dos seis anos se aborrece ao captar a magia extraordinária de como as letras se articulam para formar as palavras escritas. Portanto, há que se pensar que viés ideológico perpassa, mesmo que sub-repticiamente, essa idéia transformada em parecer educacional de que criança de escola pública será violentada se para ela também valer que se deve alfabetizar aos seis anos. Desse parecer, tem decorrido como conseqüência a promoção automática do 1° para o 2° ano, e do 2° para o 3° ano. Um olhar meramente atento sobejamente evidencia que não é o veredito de uma avaliação objetiva que traumatiza uma criança, mas, sim, a contundente experiência subjetiva de se desgarrar do seu grupo, porque não acompanha seus colegas nas aprendizagens que correspondem a razões de sua convivência diária numa turma de escola. Dilema semelhante ao de decidir se foi o ovo ou a galinha que veio antes é o de saber se não se alfabetiza aos seis anos nas escolas públicas porque foi emitido este parecer, ou se emitiu tal parecer porque as escolas não conseguem alfabetizar alunos de escolas públicas nem aos seis anos, nem sequer com mais idade. Para melhor focalizar este dilema, vale dolorosamente lembrar que, no Brasil, 50 milhões de adultos são analfabetos tendo freqüentado escola e dela saindo, depois de três anos em média, sem transitar para o espaço daqueles que leem e escrevem. Isso ocorre pelo menos por duas razões:
- o preconceito de que alguns não podem aprender;
- a utilização de metodologia inadequada.
Em torno de tais elementos é que gira o júbilo da quarta edição do Prêmio Alfabetização 100% em um ano letivo e da primeira edição do Prêmio Alfabetização 100% em apenas um semestre letivo. Alfabetizar aos seis anos é uma rotina para alguns professores. Esses professores têm como alunos crianças que já fizeram boa parte do processo de alfabetização em casa, onde convivem com familiares que leem e escrevem regularmente. Porém, crianças filhas de analfabetos ou de pessoas com pouca escolaridade chegam à escola nos primeiros níveis do processo de alfabetização. Compreender a existência desses níveis e aprender o que se faz para que neles os alunos transitem exige uma mudança profunda que vai na mais flagrante contramão do pensamento hegemônico sobre ensino-aprendizagem. Concretizar essa mudança é uma façanha que os professores premiados ousaram. Ousaram e se capacitaram para isso. E, junto com uma mudança na didática específica para a alfabetização, elas abraçaram ainda mudanças mais amplas e profundas, que constituem o pós-construtivismo. E cada vez mais navegam contra a correnteza, pois revolucionam surpreendentemente o que até hoje se pensou como forma de ensinar. 

Porto Alegre, 29 de dezembro de 2011.

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